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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Mais de 2.500 pessoas vítimas de acidentes de moto entraram na Santa Casa de Sobral neste ano

Não se pode mais jogar para debaixo do tapete, nem tampouco mascarar, as estatísticas funestas que envolvem os acidentes de trânsito no Ceará, particularmente na zona Norte, decorrentes de atropelamentos, quedas e colisões causados por motocicletas. Diariamente, a mídia local dá conta de acidentes, em sua maioria nas cidades vizinhas a Sobral, que condenam à morte muitos jovens. Muitos destes acontecimentos envolvem mais de uma morte, como o caso de uma colisão entre duas motos, acontecido no último fim de semana no município de Alcântaras, vitimando dois motoqueiros. Os números mais recentes, informados pelo serviço de Emergência da Santa Casa e Misericórdia de Sobral, mostram que de janeiro a junho deste ano já foram 2.555 atendimentos às vítimas dos acidentes provocados por motocicletas, uma média de 425,8 acidentes por mês (veja o quadro). Ainda conforme informações do serviço do hospital, todas as mortes ocorridas por acidentes de moto são jovens na faixa etária de 14 a 25 anos de idade, em sua maioria alcoolizados e trafegando sem capacete. Atualmente, os atendimentos de emergência contemplam 70% aos acidentes de motocicleta, principalmente aos finais de semana, onde morrem de três a cinco pessoas que dão entrada no hospital vitimados por este tipo de ocorrência.
Os motivos que causam tantos acidentes fatais já são velhos conhecidos das autoridades de trânsito, leia-se Detran-CE. Também é de conhecimento dos gestores do Estado, bem como de todos os gestores dos 55 municípios que compõem a macrorregião norte. Entre os principais fatores para a composição das estatíticas nefastas, inclui-se a facilidade de crédito para a aquisição de motos nesta década e a negligência dos gestores municipais em coordenar e fiscalizar o trânsito . Somam-se a estes fatores mais alguns itens que contribuem para os elevados índices de mortes em acidentes com motocicletas, como a impudência, a falta de habilidade para condução da motocicleta, o consumo de álcool e o não uso do capacete.
Para tentar reduzir esses números, o Detran tem uma fiscalização específica para motociclistas nos municípios onde os números são mais preocupantes. Entretanto muitos conseguem burlar esta ostensiva, fugindo dos locais das blitze ou pilotando por vias secundárias. Ainda conforme o Detran, o órgão vem trabalhando campanhas de conscientização voltadas para os motociclistas, mas considera que a população não se convence, nem assimila esta dolorosa e preocupante realidade dos acidentes causados por motocicletas, que se transformou em um problema de saúde pública do Estado. Este cenário vem afetando gravemente a capacidade de atendimento do serviço de Emergência da Santa Casa, sempre em estado de superlotação, seja nos leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), no Centro Cirúrgico e na Enfermaria de Traumato-Ortopedia. Compromete, também, além dos os recursos destinados à saúde pública de Sobral, a realização de outros procedimentos cirúrgicos menos urgentes na Santa Casa, obrigando a Secretaria da Saúde a adiar ou remarcar cirurgias em que o paciente não se encontre em estado tão grave.
Dor
Na zona Norte o quadro apresentado para os acidentes com motocicletas não é nada animador, seja pelo grande número de jovens, vítimas fatais destas ocorrencias, seja pelo grande número de outros tantos que têm uma recuperação lenta e dolorosa, além do trauma das seqüelas permanentes que incapacita centenas deles para o mercado de trabalho. Este foi o caso de Marcelo Andrade, 21 anos, agricultor, que é morador da cidade de Mucambo. Durante um final de semana, ao pilotar alcoolizado a sua motocicleta, retirada através de um financiamento onde pagava R$ 150,00 ao mês, perdeu o controle, bateu em uma árvore e hoje paga um preço alto pela sua falta de cuidado. “Eu quebrei o fêmur e ombro. Fiz cirurgia, mas não tenho mais força no braço esquerdo nem para segurar um copo, perdi os movimentos. Na perna atingida eu tive um encurtamento. O médico disse que dificilmente eu vou voltar a trabalhar na agricultura. Estou fazendo fisioterapia há quatro meses para ver se recupero os movimentos. Está muito difícil para mim sem trabalhar”, lamenta o agricultor, que depois de três dias na UTI tem a sorte de contar a sua história marcada por muita dor, resultado da imprudência e irresponsabilidade. O detalhe da gravidade desta história, além das seqüelas, é que ele trafegava sem capacete e sem habilitação.
O relato do jovem Marcelo Andrade, que encontra-se incapacitado para o mercado de trabalho, é apenas um entre milhares pelo Estado afora, onde a frota de motocicletas teve um crescimento de 149,03%, de 2004 a 2010, aumentando, também as estatísticas dos acidentes. Em 2004, o Ceará contava com 282.826 motocicletas e passou a ter 705.091, em 2010, conforme dados do Detran-CE. Apesar da superintendência do órgão informar que vem promovendo constantes campanhas de conscientização, além de fiscalizações ostensivas, para muita gente estas ações não surtem o efeito esperado. A professora Leila Martins, diz que até tem conhecimento das campanhas, mas acha uma ação muito vaga e sem alcance, na sua opinião as ações devem ser punitivas severas. “Acho que as campanhas de conscientização não resolvem mais o probelma, pois não são intensivas e isto logo cai no esquecimento dos condutores. A Lei Seca não resolveu nada, além de outras medidas, com fiscalização e apreensão das motos,pis são muito brandas. Na minha opinião, deveria ter punições severas para os condutores que infringissem as leis do trânsito e fossem responsáveis pela causa de algum acidente”, ressalta a professora, que possui uma motocicleta e confessa temer pela sua vida a cada dia que enfrenta o trânsito em Sobral.
Vanderley Moreira

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