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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ceará:Faltam neuropediatras na rede pública de saúde

O titular da Sesa reconhece a carência e garante já ter comunicado o problema ao Ministério da Saúde

Elas são especiais. A maioria apresenta problemas cognitivos e motores, ou seja, falam e se movimentam com dificuldades. Outras apresentam convulsões e precisam tomar medicamentos diários. As crianças com problemas neurológicos no Ceará sofrem com uma série de dificuldades desde o nascimento. Contudo, atualmente, a maior delas é a falta de médicos neuropediatras no sistema público de saúde do Estado.

Segundo a neuropediatria Cristina Aguiar, do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS), em Fortaleza há apenas oito especialistas, sendo cinco no Hias, dois no Hospital Geral de Fortaleza e um no Hospital Universitário Walter Cantídio. No interior existe um em Juazeiro e outro Sobral, ou seja, são dez neuropediatras para atender toda a demanda no Estado. Diante disso, é grande a demora para conseguir um atendimento. Para se ter uma ideia, no Hias só há vagas para maio de 2011.
E os números de atendimentos na unidade são impressionantes. De janeiro a agosto deste ano, foram 7.571 crianças consultadas no ambulatório de neuropediatria, o que representa um aumento de 20% em relação ao mesmo período do ano passado, que registrou 6.318 atendimentos. Cristina Aguiar ressalta que chega a atender cerca de 350 pacientes por mês em seu consultório.

Conforme ela, a situação se agrava, pois a especialidade médica não existe no Ceará. Os médicos precisam viajar para Estados da região Sul ou Sudeste, se quiserem se especializar. "Diante dessa situação, a demanda parece ser maior, pois não há neuropediatras no Interior do Estado. Então, todos os pacientes são encaminhados para Fortaleza", frisa.

Cerca de 50% dos pacientes atendidos no Hospital sofrem com paralisia cerebral, outros 40% são epilépticos, e 10% possuem dificuldade de aprendizagem. Conforme Cristina, na maioria das vezes, as principais causas da paralisia cerebral, doença neurologica ainda predominante no Estado, são o pré-natal mal feito e condutas inadequadas durante o parto. Ela explica que, sem auxilio de pediatras ou especialistas durante o procedimento, a criança pode sofrer anoxia, o que implica na falta de oxigenação no cérebro e provoca a paralisia cerebral.

Foi o que aconteceu com Edinaldo Sousa, 13 anos. A ausência do pré-natal, o nascimento prematuro em uma gravidez de gêmeos, e a conduta equivocada dos médicos deixaram sequelas permanentes nele e levaram seu irmão a óbito. Apesar de ser um adolescente simpático e comunicativo, não é possível esconder a dificuldade na fala e nos movimentos.

Conforme a fonoaudióloga Evelin Gondim, os cuidados nos primeiros dias após o nascimento são essenciais para estimular o desenvolvimento da criança que apresenta problemas neurológicos. Segundo ela, o ideal é que o recém nascido seja acompanhado pelo menos duas vezes por semana. Contudo, essa não é a realidade no Ceará, pois diante da falta de neuropediatras na Capital e no Interior os acompanhamentos muitas vezes são mensais.

De acordo com João José Carvalho, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital Geral de Fortaleza, é necessário criar urgentemente uma residência médica em neuropediatria no Estado. Ele ressalta que na unidade só existem dois especialistas, número "absolutamente insuficiente" para atender a demanda. "Não sei dizer quantos neuropediatras temos, mas a quantidade é mínima diante do número de atendimentos", diz.

O secretário da Saúde do Estado, Arruda Bastos, confirma os dados revelados por Cristina Aguiar e reconhece que há uma necessidade urgente de criar vagas para residência médica na área. Segundo ele, a Secretaria já entrou em comunicação com o Ministério da Saúde e da Educação para comunicar a carência de neuropediatras.

Arruda Bastos destaca que, com a inauguração do Hospital Regional do Cariri e da Região Norte do Estado, vão surgir novas vagas na área e possivelmente será implantada uma residência médica na especialidade.

PARA CRIANÇAS
Hias tem núcleo de atendimento
O Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), referência no Estado tem uma unidade especializada no tratamento de crianças com problemas neurológicos. O Núcleo de Assistência a Vida Infantil (Navi) é uma associação beneficente que não possui fins lucrativos desde outubro de 1997.

A unidade atende crianças, após alta hospitalar, que apresentam risco neurológico, com sequelas instaladas, síndromes e más formações congênitas. Atualmente, o Navi assiste a 100 crianças, de zero a três anos, das quais 59 são consultadas regularmente por uma equipe interdisciplinar. Destas, 50% tem paralisia cerebral

Segundo Evelin Gondim, coordenadora do Núcleo de Assistência a Vida Infantil, a unidade foi criada para realizar acompanhamento para as mães sobre seus bebês de risco, após alta hospitalar através de uma equipe multidisciplinar. Com isso espera-se que sejam detectadas precocemente possíveis sequelas neuropsicomotoras para intervir de maneira ágil.

Após a alta hospitalar, os recém-nascidos de risco são encaminhados ao Navi pelo médico.

Conforme ela, depois da admissão no Núcleo, o pediatra realiza uma avaliação onde decidirá os encaminhamentos que deverão ser feitos para os demais profissionais da equipe de reabilitação formada por fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, enfermeiros e psicólogos. A periodicidade do atendimento da criança no Navi é determinada pelo grau de complexidade de cada caso. "Conforme as sequelas apresentadas, poderá retornar de uma a três vezes por semana, quinzenal ou mensalmente. A estratégia maior do Projeto é promover a integração da equipe com crianças e familiares, na busca pela conscientização e a corresponsabilidade de todos".

Fonte:Diario do nordeste

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